Meio ambiente talvez, quem sabe, sobre só a metade?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Poema " Sem Terra"




Poema "Sem Terra"




Chovia muito naquela época
 Existia uma rica e belíssima floresta
Pessoas habitavam em suas proximidades
Belas estradas que levavam as vilas e pequenas cidades
Que eram estreitas e sombreadas, em ricas cascatas
Há como a  vida ali era  feliz!
Associada aos costumes e tradições
Boas festas e belas canções

Ao longe, no final do boqueirão
Descendo a ladeira, o burrico na lama escorregava 
 A estrada era uma ladeira escorregadia, deixava marcas
Que logo  formando possas d’água, encharcavam
Via-se o desgastado pedaço de lona, sob o lombo do animal
Que cobria a feira, dentro do casuar
Na velha e surrada cangalha de couro de boi, os embornais

O casal, descalço, acompanhava a pé à montaria
Seu casaco encharcado, molhado, da  fina chuva fria
Deixavam-no meio encolhido e encurvado de frio
Em baixo do velho e cinzento chapéu de feltro
A mulher empunhava uma sombrinha colorida, verde sombrio 
Mas, pouco a pouco se aproximavam do velho casarão
Viajavam com muita alegria e os pés no chão

Saíram cedo para as compras de final de mês
Não via à hora, de descarregar o animal
Pensavam em sua cama, quentinhos
E poder juntos descansar 
Esta era a rotina daquela família, tudo natural

Moravam na roça, próximo a outros tantos vizinhos
Que da mesma maneira viviam, na região serrana
Região cacaueira do sul da Bahia 
Naquela época muito rica e soberana
 O trabalho era árduo e muito duro
Mas éramos felizes, a colheita era muito boa
Nossos filhos eram criados com muita alegria

Naquele final de tarde, sentamos à mesa
O café quentinho e uma boa sopa de verduras
Revigoraram nossos corpos cansados da labuta
Depois de alguns dedos de prosa contando aventuras
Foram dormir para descansar  com tantas venturas

Alguns dias depois?
O galo losna cantava na madrugada
Não demorou muito e o sol aparecia no horizonte
Era o inicio da primavera
As flores apareciam em algumas árvores
O grande jequitibá estava lindo e florido
As vacas leiteiras que deitadas
Próximos ao curral ruminavam
O jovem filho, aproximava-se do curral
Com balde e o par de arreadores
E iniciou a rotina diária
Cantando feliz enchia os latões
Seu velho pai,  o cigarro de palha enrolava
E com o facão de vinte polegadas,  na pedra ríspida amolava

Preparava-se, iam para a roça dos cacauais
Colher os frutos e fez as bandeiras
E a quebra dos cocos, retirando as amêndoas
Carregou os animais, levando para a barcaça
Pisou nos frutos e retirou a pevide
Colocando-os para depurar
No outro dia, espalhou sob a estufa
Acendeu a fornalha e com o rodo, mexeram
Logo se via a fumaça que  levemente subia
Estava pronto e ele ensacou depois de apurar
O cheirinho do cacau  ao longe sentia


Aquela boa vida lá na roça
Um dia  de repente acabou
 Apareceu uma  terrível praga
Que longe, foram buscar
Os malvados bio-terroristas
O sul da Bahia devastaram
E jogaram a maldita praga na lavoura
Destruída ela ficou, quase  a mataram
A felicidade foi embora
As nossas vidas  desabou


Sem as rendas das famílias
Muito mal eles nos causaram
E de tristeza sucumbiram
Alguns não aguentaram
Venderam as suas terras
E ficaram as margens das estradas
Com um pouco de dinheiro
Que restou no imborná



Não se compra mais aquela terra
Mas um pouco de lenha, dá pra comprar
E aquecer à beira da fogueira
Um pouco daquela tristeza
A gente ainda há de lembrar
Que tínhamos uma casa e um fogão a lenha
E hoje temos  o tempo e um barração
E “sem terra” para morar
E ainda perdemos o nosso chão
Hoje não temos nada, nem a nossa terra para cultivar

Antonio Lourenço de Andrade Filho





Um comentário:

  1. A LAVOURA CACAUEIRA ERA TIDA COMO A PRINCIPAL FONTE DE RENDA DO SUL DA BAHIA, A PARTIR DO FINAL DA DÉCADA DE 80, UMA PRAGA ATINGIA TODA A REGIÃO. FAZENDAS QUE MANTINHAM MUITAS FAMÍLIAS DE TRABALHADORES RURAIS, MORADORES FIXOS DAS PROPRIEDADES, ESTAVAM AMEAÇADOS A SAÍREM DAS FAZENDAS E IR EM BUSCA DE NOVOS CAMPOS DE TRABALHO,COMO A REGIÃO ERA DOMINADA PELA MONOCULTURA DO CACAU, LEVAS DE TRABALHADORES DESEMPREGADOS, FORAM PARAR AS MARGENS DAS ESTRADAS DESEMPREGADOS, SEUS DIREITOS TRABALHISTAS FORAM COLOCADOS EM CHEQUE, GRANDE NÚMERO DE PROPRIETÁRIOS DE TERRA, JÁ NÃO PODIAM PAGAR O SALARIO A TANTAS PESSOAS, POIS A PRINCIPAL FONTE DE RENDA, QUE ERA O CACAU, DESAPARECEU.
    ENQUANTO A PRAGA ALASTRAVA-SE EM TODO O ESTADO, POIS A PRAGA FOI CONSTATADO QUE FOI JOGADA PROPOSITALMENTE POR ALGUNS DOS FUNCIONÁRIOS DO PARÓPIO ÓRGÃO CEPLAC, O QUE TORNOU-SE UM CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO PARTICULAR E CONTRA A NAÇÃO.
    ENQUANTO AGRICULTORES PROPRIETÁRIOS ERAM OBRIGADOS A PAGAR O PASSIVO TRABALHISTAS DE SEUS EMPREGADOS, ABATEU-SE NA REGIÃO GRANDES PROBLEMAS, NÃO TENDO OPÇÃO DE RENDA, OBRIGATORIAMENTE MUITOS SE OBRIGARAM A DESFAZER DE SEUS PATRIMÔNIOS, VENDENDO SUAS PROPRIEDADES PARA QUITAR A DÍVIDA TRABALHISTA DE SEUS EMPREGADOS A PREÇOS IRRISÓRIOS, POI A CULTURA DO CACAU ESTAVA DESACREDITADA, ALGUNS, NÃO AGUENTARAM À TÃO GRANDE PRESSÃO E SUICIDARAM-SE,
    ENQUANTO TODA A REGIÃO EMPOBRECIA, AS FAZENDAS, OUTRORA RICAS PROPRIEDADES, FORAM ABANDONADAS, A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, BANCO DO BRASIL, OFERECIA O BRAÇO MONETÁRIO PARA SUPOSTAMENTE AJUDAR OS AGRICULTORES, OFERECENDO DINHEIRO PARA RECUPERAÇÃO DA LAVOURA CACAUEIRA E FAZENDO VISTA GROSSA PARA O PROBLEMA, COMO ELES JÁ ESTAVAM BASTANTE ENDIVIDADOS, ENVOLVIAM-SE EM MAIS OUTRAS DÍVIDAS, ALGUNS, POR ESTAREM NO NSPC-SERASA, RECORRERAM AOS CIGANOS. ESTES ACABAVAM DE ENCONTRAR UM NOVO FILÃO PARA GANHAR DINHEIRO FÁCIL. EMPRESTANDO DINHEIRO A TAXAS ALTÍSSIMAS DE ATÉ 30%, QUEBRAVAM SEUS DEVEDORES, QUE SE SENTINDO PRESIONADOS PELOS MESMOS, PIORAVAM A SITUAÇÃO, MUITAS VEZES PERDENDO TODO O SEU PATRIMÔNIO.
    PERANTE O ACONTECIDO, A INJUSTIÇA FOI FEITA PARA OS INOCENTES, POIS SE TRATANDO DE BIOTERRORISMO, SERIA O CASO DE PUNIR OS RESPONSÁVEIS E A DIVIDA SER PERDOADA, O GOVERNO ASUMIR O ONUS DA RECUPERAÇÃO DOS CACAUAIS E DAR SUPORTE TECNICO GRATUITO AOS PREJUDICADOS. HOJE QUASE 20 ANOS DEPOIS, A AGRICULTURA TOMOU RUMOS DIVERSOS NO SUL DA BAHIA ONDE HOUVE UMA DIVERCIFICAÇÃO, O PREJUIZO VOLTOU-SE PARA O MEIO AMBIENTE, POIS MUITOS TIVERAM QUE SE DESFAZER DO RESTANTE DA RESERVA LEGAL DAS FAZENDAS COMO OPÇÃO DE RENDA DESMATANDO DEZENAS DE HECTARES DE FLORESTA NATIVA, E A DÍVIDA DE ALGUNS AINDA PERMANECEM, AINDA NÃO CONSEGUIRAM QUITAR PERANTE OS BANCOS, QUE INSISTE EM NEGOCIAR, MAS OS MALFEITORES CONTINUAM POR AÍ SE DANDO BEM E OCUPANDO CARGOS DE ALTA IMPORTÂNCIA, ATÉ MESMO NA PRÓPRIA EMPRESA CACAUEIRA.

    ResponderExcluir