Meio ambiente talvez, quem sabe, sobre só a metade?

domingo, 4 de setembro de 2011

Chuva das Águas nas Caatingas

Chuva das Águas nas Caatingas



Naquele instante, olhando na vastidão do horizonte, montanhas!
Vislumbrando contornos, só alcançado pelos pássaros que vivem naquele lugar
Local de difícil acesso
Mistérios que a vida contempla
Lançando-me perguntas, difíceis de responder
Perplexo, diante de tal majestade
Simbolizando a grandeza do criador
Mas, herança que nos foi dada
E que a tudo devemos fazer
Para que outros, no futuro a contemplem também



Enquanto nuvens carregadas passam, levadas pelos ventos do Norte
As cigarras cantam ruidosamente, anunciando que algo vai acontecer
Pássaros emudecem, num gesto de respeito, segurando o seu canto para depois
Uma rã coaxa no gravatá, anunciando que poderá chover
Dizer dos mais velhos
Observando ao redor, formigas apressadas, aos milhões
Parecem mudar, prevendo talvez que aquele local não é seguro



O sol brilha e esquenta a terra que já está ressequida
Morta de sede, rachada, o calor incomoda
Num ato de sobrevivência, a vegetação seca parece hibernar
Garranchos secos parecem mortos, adormecidos
Cantando uma musica o vento e espalha folha secas
Que estalam deslizando pelo chão
Um redemoinho levanta pequenos ciclones, que parecem levá-las para passear
Até muito alto e descem flutuando por todo lado



Quem está descansando, após um árduo dia de trabalho
Naquele instante, só ouve o zumbido de uma mosca verde
Que insiste em dar vôos rasantes em sua volta
Queimou goivaras no sol escaldante, fumaça que desapareceu no horizonte
E olhando na imensidão daquele lugar!
Imagina a plantação que acabava de fazer
Lavrou o solo, jogou a semente, o suor derramou
Agradecendo num gesto solene
Tirou o chapéu
Olhou para cima, estendeu o braço!
Reverencia, pedindo a proteção do Senhor



Mês de setembro, inicio da primavera, hora de renascer
Nuvens se aproximam ameaçadoramente
De repente um estrondo, trovões rugem na vastidão das montanhas
O céu parece rachar e rasgar
Uma luz corta o ar, desce para fertilizar a terra
Pingos fortes descem sucessivamente, vão se chocando ao solo
Uma ventania parece levar tudo, e passeia fortemente dentre as arvores
Retorcendo-as e quase as levando de encontro ao solo
Folhagem, quebra de galhos, arvore quebradiça
Açoitadas pelos ventos fortes, que esborrifam água
Por todo lado, num cenário ameaçador


Passando o primeiro momento, o céu se deságua em cortinas de chuva
Inundando tudo. Agora cai mansa insistente
A noite, através do velho telhado
Vêem-se os clarões
A chuva avança na madrugada
As águas derramam na bica transbordando os tanques
Que logo se trasbordam as fenda
Que transbordam os córregos
Que transbordam o lago
E descem para o rio, que ruge em direção ao mar
Levando entulhos, troncos, e descem as águas
Caudaloso rio, quebrando barrancos, lambendo as rochas
Espumando, das águas barrentas
Algum tempo depois, não sei quanto tempo
Não sei se horas, se dias, se meses
Só sei que a vida brota, o verde aparece, as folhas e as flores orvalhadas
Enfeitam as arvores que renascem
Outro anoitecer, vaga-lumes piscando na noite
Coaxar de sapos nas lagoas, tamborilando de diversas maneiras para o acasalamento
Na madrugada o corujão com seu canto misterioso
Transforma a noite num cenário de ilusões

Numa manhã, o solo devolve as nuvens
Que parecem brotar das montanhas na vastidão do horizonte
Levando-as de volta para o céu
O sol acorda com um brilho diferente
Lançando os seus raios dourados na manhã
Os pássaros cantam, os animais nascem sadios
As abelhas e borboletas perpetuam as espécies
Com o néctar retirado das flores
Como a beija-flor solitária, que com seus silvios anuncia sua presença
E logo some velozmente à procura de novas flores

Os lagos e os rios agora enfeitados de linda vegetação
Renascem apresentando toda a beleza de plantas aquáticas que florescem
E aves que passeiam com suas longas pernas em busca de alimento para seus filhotes
As libélulas voam sob a água, dando toques sutis
Até o solitário gavião, espreita encima do galho seco, toda aquela beleza
Assim sim, assim foi assim será... Será?
E nós? Será que nós não sabemos?
Que de onde nós viemos...
Que se a natureza não preservar
O futuro parece parar
Num curto espaço de tempo
Quem sabe
Amanha nada disso haverá?



(Antonio Lourenço de Andrade Filho)




Este poema retrata a alegria de viver na Caatinga, que depois de grande jornada de seca de repente renasce, transbordando de beleza em todo o seu esplendor na época de chuvas das águas e, só quem vive lá, conhece o verdadeiro significado das chuvas e da preservação ambiental, não só de seu bioma, como também do seu povo e de seus costumes. De maneira cruel e com a má utilização da terra vão se esgotando os recursos naturais e pondo em risco toda a biodiversidade local.



Jequié
16/09/2008

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