Meio ambiente talvez, quem sabe, sobre só a metade?
DOCUMENTO FINAL DO ENCONTRO TERENA
HÁNAITI HO’ ÚNEVO TÊRENOE
(GRANDE ASSEMBLEIA DO POVO TERENA)
Aldeia Moreira, 16, 17 e 18 de novembro de 2012
“O Povo Terena lembra a data do dia 18 de novembro, quando se completa 1
ano do assassinado do Cacique de Guayviry Nísio Gomes. Pedimos justiça e
a punição dos executores e mandantes desse ato brutal. Não é tirando a
vida de nossas lideranças que vai se resolver a demarcação de terra
nesse estado. É preciso que o governo federal assuma sua
responsabilidade em demarcar nossos territórios, principalmente no
estado de Mato Grosso do Sul que é campeão em violência contra os povos
indígenas”.
As lideranças da Aldeia Imbirussú, Aldeia Bananal,
Aldeia Lagoinha, Aldeia Ipegue, Aldeia Água Branca, Aldeia Morrinho,
Aldeia Limão Verde, Aldeia Lalima, Aldeia Passarinho, Aldeia
Cachoeirinha, Aldeia Argola, Aldeia Babaçu, Aldeia Moreira, Aldeia
Tereré, Aldeia Buriti, Aldeia Mãe terra; juntamente com seus anciões,
professores, diretores, acadêmicos indígenas, agente de saúde e suas
organizações.
Este conselho é formado pelas lideranças Terena
legítimas, que atuam na base de suas comunidades e que sabem os
verdadeiros anseios de seu povo.
Nós lideranças Terena reunidos em
assembleia na Aldeia Moreira juntamente com representante do Ministério
Público Federal, representante da Secretaria de Articulação Social da
Presidência da República, representante da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, equipe técnica da FUNAI e Coletivo Terra Vermelha,
tratamos das questões relativos à nossa comunidade referente aos nossos
territórios tradicionais, a saúde, a questão política dentro da
comunidade e educação escolar indígena.
Em primeiro lugar
repudiamos todas as formas instrumentais que o movimento anti-indígena
tem articulado para usurpar nossos direitos historicamente conquistados,
tais como a Portaria 2498 publicada em 31 de outubro de 2011, por meio
do Ministério da Justiça, que determina a intimação dos entes federados
para que participem dos procedimentos de identificação e delimitação de
terras indígenas. A PEC 38/99 que com o relatório e voto do Senador
Romero Jucá, quer alterar os artigos 52 e 231 da Constituição Federal e
determinar que as demarcações de terras indígenas deverão ser aprovadas
pelo Senado Federal. A PEC 215/00, que foi aprovada pela Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados no
primeiro semestre de 2012 e visa alterar os artigos 49, 225 e 231 da CF
e, em última instância, determinará: que toda e qualquer a demarcação de
terra indígena ainda não concluída deverá ser submetida à aprovação do
Congresso Nacional e que as áreas predominantemente ocupadas por
pequenas propriedade rurais que sejam exploradas em regime de economia
familiar não serão demarcadas como terras tradicionalmente ocupadas por
povo indígenas. Repudiamos também o Projeto de Lei n. 1.610/96 que se
constitui como instrumento de facilitação a invasão, mercantilização e
exploração das nossas terras.
Exigimos novamente a revogação da
Portaria n. 303 da AGU. O Governo Federal, fazendo uso da Advocacia
Geral da União, manipula, escandalosamente, a decisão do Supremo
Tribunal Federal, tomada no âmbito da Petição 3.388, que diz respeito
exclusivamente ao caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no estado
de Roraima, não possuindo, portanto, efeito vinculante. Nesse sentido,
já há três decisões liminares de Ministros do STF que manifestam esse
entendimento. Além do mais, o caso ainda não transitou em julgado. Com a
presente portaria, o Governo desvirtua a decisão da Suprema Corte
generalizando e retroagindo a aplicabilidade das chamadas
“condicionantes” emanadas nesse julgamento.
Em nossa comunidade não
há mais espaço para a roça, chegará o tempo que teremos que construir
nossas casas em cima da outra. Estamos vivendo um verdadeiro
confinamento. O estado brasileiro está em dívida com os povos indígenas,
pois o Art. 67 da ADTC determinou prazo de 5 anos para que toas as
demarcações fossem concluídas. Assim, desde 1.993 o governo federal está
em mora com as nossas comunidades. Até hoje a Presidenta Dilma não
recebeu uma delegação indígena. Em seu discurso de posse ela afirmou que
em seu governo “os direitos humanos não seriam negociáveis”. Exigimos
que nossas terras tradicionais sejam demarcadas.
Que o judiciário
julgue as ações em trâmite que versão sobre demarcação de nossas terras.
Denunciamos a judicialização da demarcação de nossas terras, o poder
judiciário com sua morosidade não tem resolvido à demarcação, mas tem
dado decisões sistemáticas contra as comunidades indígenas. Repudiamos
as liminares concedidas que paralisam os processos demarcatórios,
decisões essas concedidas unilateralmente atingindo o nosso bem maior,
“nossa terra”.
Denunciamos o modelo desenvolvimentista
agroextrativista exportador adotado pelo Estado brasileiro, onde em nome
do dito “desenvolvimento” passa por cima dos direitos humanos,
ambientais e sociais. Enquanto o estado de Mato Grosso do Sul bate
recordes de produção na agricultura e pecuária, existe por traz disso o
avesso do olhar desenvolvimentista. Mato Grosso do Sul é o estado que
bate recordes de violência contra os povos indígenas, de negação aos
territórios tradicionais, de má assistência à saúde indígena e total
submissão aos poderes locais do agronegócio.
Denunciamos o mau
atendimento à saúde nas aldeias, não há medicamentos para a população,
não há profissionais suficientes para atender a demanda específica das
comunidades indígenas. Está acontecendo em várias comunidades
negligência por parte do atendimento a saúde. Reivindicamos capacitação
para a população indígena para conhecer a gestão de saúde e atuação dos
profissionais.
Nossas lideranças, anciãos, professores, acadêmicos
indígenas e mulheres indígenas devem ter consciência de que o índio deve
ser protagonista na política sul-mato-grossense. Devem-se criar
comissões internas nas comunidades para trabalhar o fortalecimento e
autonomia de suas comunidades. Que as secretarias municipais de assuntos
indígenas atuem junto com as lideranças tradicionais para formar uma
comissão que avaliem a atuação dos partidos políticos em nossas aldeias.
Propomos para nossa comunidade o fortalecimento da educação
bilíngue, específica e diferenciada. Temos que preparar nossa juventude
para irem estudar fora na cidade e estarem aptos ao mercado de trabalho.
Pedimos as nossas lideranças que apoiem os professores e acadêmicos
indígenas na luta pela educação escolar indígena e educação superior
indígena.
Encaminhamentos:
Convocamos a participar das
próximas assembleias o Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI),
bem como representante da SESAI – Brasília para estarem conhecendo a
realidade e a demanda de nossas comunidades.
Intimamos e exigimos a participação do Sr. Nelson Carmelo (Presidente DSEI), nas próximas assembleias Terena.
Fica aprovada pelo Conselho a reivindicação para que a FUNAI realize a
reunião do Comitê Gestor em nossas comunidades. Exigimos que a FUNAI
regional de Campo Grande inclua um membro desse conselho no Comitê
Gestor.
Em nossas escolas, temos que ter materiais didáticos em
nossa língua materna e concurso público específico para professores
indígenas falantes da língua. Queremos nossos professores Terena
assumindo exclusivamente as salas de aula em nossas comunidades,
conforme diretriz do MEC publicado em 15.06.2012.
Pedimos concurso
diferenciado para profissionais da área de saúde que atuem em nossas
comunidades. Pedimos apoio logístico na questão da saúde em nossas
aldeias, tais como ambulância para pronto atendimento da comunidade, bem
como renovação dos carros já existentes. Temos que ter especial atenção
as pessoas portadores de necessidades especiais que estão na aldeia.
Repudiamos a atitude de servidores que atuaram na aplicação das provas
do ENEM, que impediram muitos estudantes indígenas de realizarem a
prova. Exigimos que o MEC adote medidas no sentido de atender as
especificidades das comunidades indígenas.
Exigimos que o Governo
Federal, por meio do Ministério da Justiça, que faça a desintrusão das
terras indígenas já homologadas. É inadmissível ver decisões judiciais
ordenando o despejo de comunidades indígenas, a exemplo dos Kadiwéu, que
já tem sua terra homologada.
Fica encaminhado para a presidência da
FUNAI que providencie a publicação da portaria do Sr. Valcélio
Figueiredo, ratificando-o como representante desse conselho no Comissão
Nacional Política Indigenista.
Será realizado o II Encontro da
juventude Terena (Hánaiti Ho’únevohiko Inámati xâne têrenoe), na aldeia
Lalima no primeiro semestre do ano 2013.
Será realizado o Encontro
dos professores Terena da Terra indígena TAUNAY/IPEGUE (Hánaiti
Ho’únevohiko Ihíkaxotihiko têrenoe), na aldeia Lagoinha, Município de
Aquidauana-MS, no dia 14 de dezembro de 2.012. Fica desde já, a
Secretaria Estadual e Municipais de Educação, intimados a participarem
desse encontro de professores.
Será realizado o III HÁNAITI HO’
ÚNEVO TÊRENOE (GRANDE ASSEMBLEIA DO POVO TERENA), na aldeia Buriti,
Município de Dois de Irmão de Buriti/MS, no mês de março de 2013.
Aldeia Moreira – MS, 18 de novembro de 2012.
Povo Terena,
Povo forte,
Povo que se levanta!
ASSINAM AS LIDERANÇAS PRESENTES
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